terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Omar al-Bashir: Genocida à espera da justiça

«Seis meses depois de ouvirem a acusação, os juízes do Tribunal de Haia deverão dar o seu veredicto. O Presidente que governa o Sudão com mão de ferro desde 1989 pode ser condenado pela matança de 300 mil pessoas no Darfur.

Omar al-Bashir é, por estes dias, um genocida a aguardar justiça. O Presidente sudanês foi acusado em Julho de ter orquestrado o genocídio no Darfur. Num gesto inédito na história do tribunal de Penal Internacional, o procurador argentino Luis Moreno-Ocampo pediu a emissão de um mandado de captura internacional. E a julgar pelas notícias da última semana, o veredicto estará para breve.
[…] Pouco se sabe sobre a vida privada do ditador, um dos mais odiados do planeta. Nascido em 1944 numa família rural, Al-Bashir terá tido uma infância dura antes de entrar no exército. Muçulmano confesso, é casado. Mas não tem filhos.
[…] Sob a sua presidência, o Sudão seguiu muitas vezes um rumo contraditório. Da mesma forma que fez adoptar vários princípios da lei islâmica, a Sharia, tomou decisões no sentido da liberalização da economia. A sua marca é inegável. Quando chegou ao poder, há 20 anos, ter dólares era um crime punível com pena de morte. Agora são muitos os que na capital, Cartum, andam com os bolsos cheios das notas verdes que pagam o petróleo sudanês.
Apesar de tudo, o maior desafio de Al-Bashir foi manter a integridade territorial do país que já acolheu Ussama ben Laden. Em 15 anos no poder tratou de pôr termo à sangrenta guerra civil entre o Norte e os rebeldes do Sul. Mas quando, em 2005, conseguiu assinar um acordo de paz, um novo conflito atingia o auge no Darfur, a vasta e desértica província do Oeste do país. A população local, de maioria africana e animista, revoltara-se dois anos antes contra o que chamava o favorecimento dos árabes pelo Governo.
O conflito saltou para as páginas dos jornais quando Al--Bashir deu ordens às milícias Janjaweed para porem termo à revolta dos locais. A resposta foi dura: os milicianos não só matavam os homens como humilhavam os sobreviventes, submetendo-os a violações, à fome e ao medo. Al-Bashir empatou durante meses o envio de uma missão de paz da ONU e da União Africana, posição que o confirmou como um dos governantes mais repudiados pelo Ocidente.
A revista Time colocou-o na lista dos cinco ditadores mais cruéis do pós II-Guerra Mundial. Na sua apresentação escreveu: "As suas guerras fizeram mais de 2.5 milhões de mortos (no Sul do Sudão e na região do Darfur); mais de sete milhões de deslocados forçados pelas suas tácticas de terra queimada (só no Darfur 1500 aldeias foram reduzidas a cinzas)."
[…] Apesar de haver grande expectativa em torno da decisão do Tribunal de Haia - Al-Bashir foi o primeiro Chefe do Estado em funções a ser acusado e poderá bem ser o primeiro condenado - dificilmente o ditador, de 65 anos, será levado aos juízes num futuro próximo. Apesar das muitas fraquezas do seu regime, a oposição está dividida e não existe verdadeira ameaça ao seu poder. O medo persiste no Sudão.

Fonte: DN, 17-01-2009. Texto de Hugo Guerra

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